A queda do WeWork: entenda os detalhes do fracasso do IPO e suas consequências globais

A ascensão e queda do WeWork: entenda os motivos do fracasso do IPO

A startup WeWork, que se destacou por locar imóveis em vários lugares do mundo e transformá-los em espaços de coworking super modernos e atraentes, surpreendeu negativamente o mercado financeiro com seu pedido de IPO (Oferta Pública Inicial de Ações). A empresa, que já havia captado milhões de dólares e prometido um crescimento exponencial, viu sua valorização de mercado despencar e enfrentou crises enormes de imagem e gestão. Um programa de demissão em massa foi implementado e seu maior investidor assumiu suas operações. Mas quais foram os pontos principais do fracasso do IPO do WeWork e quais as consequências que isso desencadeou em todo o mundo?

O começo da crise no IPO do WeWork

Ao solicitar seu IPO, a operação do WeWork passou a ser analisada em detalhes e foi nesse momento que os problemas começaram a surgir. Detectou-se que a expansão da empresa não estava sendo acompanhada da expectativa de rentabilidade prevista. Aliás, o cenário era exatamente oposto. Não demorou muito tempo para o mercado ter a percepção de que a organização tinha gastos extremamente elevados. No ano de 2018, o prejuízo foi da ordem de US$ 1,9 bilhão, enquanto a receita ficou em US$ 1,8 bilhão. Além disso, a companhia havia sido avaliada em US$ 47 bilhões pela SoftBank, praticamente a única investidora da We Company desde 2016. Só que o cálculo foi tido como superestimado.

Os problemas do WeWork também estavam nas atitudes do então CEO, Adam Neumann. Ele, que já era dono de alguns imóveis locados para WeWork, pegou uma linha de crédito pessoal na empresa a juros baixíssimos, e usou o dinheiro para adquirir mais prédios, que também foram alugados para o WeWork. Houve também o episódio da cobrança de US$ 6 milhões em ações pela utilização da marca “We”, propriedade de outras pessoas jurídicas. Também haviam várias festas dentro dos escritórios, com duração de dias, inclusive durante o expediente e até dentro de reuniões. Adam comandava demissões arbitrárias contra colaboradores que não tinham uma “energia” que ele curtia. Por fim, o processo investigativo sugeriu que o ex-CEO e algumas pessoas próximas a ele planejaram o IPO para captação de dinheiro em benefício próprio. Por essa razão, o WeWork era promovido como uma organização que valia cerca de US$ 50 bilhões. Neumann, por sua vez, defendia que a avaliação de um negócio deve considerar seu tamanho e sua espiritualidade, acima das receitas das operações.

Imagens e administração manchadas

A alegação do WeWork, que seu valor de mercado se justificava pelo seu crescimento exponencial, como as empresas mais bem-sucedidas do ramo de tecnologia, não convenceu. Afinal de contas, seus clientes podem ser dessa área, mas ela não é. Por isso, os potenciais investidores não engoliram esses argumentos. Com forte pressão externa, especialmente da SoftBank, Adam Neumann deixou sua posição de Chief Executive Officer no final de setembro de 2019. Isso aconteceu uma semana antes do WeWork cancelar o pedido de abertura de capital, que tinha sido registrado em agosto. Esse cancelamento trouxe dúvida de como a organização se sustentará daqui para frente. Essa não será uma tarefa fácil, já que o prospecto de IPO descrevia gastos de 700 milhões de dólares por trimestre, em média. No mês de junho, a instituição contava com U$ 2,5 bilhões na conta. Não precisamos fazer grandes cálculos para perceber que, se nada mudar, até março de 2020 o WeWork estará sem capital para continuar operando.

Investidores e funcionários pagam seus preços

Após a saída de Neumann, dois profissionais antigos do negócio assumiram a presidência executiva: Artie Minson e Sebastian Gunningham. Eles planejaram sérias reduções de custos, e o corte incluirá um plano de demissão robusto, com cerca de 2.400 pessoas perdendo seus empregos. A empresa afirma que todo colaborador receberá seu pacote de rescisão, benefícios continuados, entre outras assistências. Luxos, como o jatinho privado que Adam usava, avaliado em U$60 milhões, também passarão a não mais existir. A palavra de ordem é enxugar despesas e transformar o WeWork em uma corporação lucrativa. Em dezembro, houve outra mudança. Dessa vez, Marcelo Claure foi nomeado CEO e uma das perguntas que ele mais escuta de seus funcionários é como Adam Neumann conseguiu obter tanto dinheiro, mesmo com o fracasso do IPO e a crise instalada na empresa. A resposta é simples, mas não necessariamente justa. A Softbank não teve muita escolha, já que Neumann tinha direito de colocar à venda uma parte das ações que possui do WeWork, com parte da OPA (oferta pública de aquisição de ações) que o grupo japonês está realizando a todos os acionistas.

A reação do SoftBank

Muita gente se pergunta como a SoftBank foi capaz de apostar em um negócio tão arriscado. Especialistas do setor dizem que o prejuízo tinha chance de ser evitado, caso o empreendimento tivesse sido enquadrado como imobiliário e não como uma startup de tecnologia em franca expansão. No total, a Softbank aplicou mais de 10 bilhões de dólares nessa empreitada. Até o momento, o diretor da operação brasileira, André Maciel, considera o investimento perdido. Porém, ao assumir o controle das operações do WeWork, o negócio está sendo monitorado de perto, na tentativa de recuperar o capital investido. Há um certo consenso interno na companhia japonesa em relação aos erros cometidos em investimentos. Por outro lado, quem atua com venture capital sabe que, às vezes, é preciso permitir que algumas startups cresçam como a WeWork, para que surja o próximo Facebook ou Alibaba. Isso não quer dizer que o caso WeWork não tenha afetado profundamente a tomada de decisão da SoftBank.

Conclusão

O caso WeWork é um exemplo claro de como uma empresa pode crescer de forma descontrolada e sem olhar para a rentabilidade, baseando-se apenas na captação de recursos para sustentar essa expansão. O fracasso do IPO do WeWork e as consequências disso desencadearam uma série de mudanças na empresa, incluindo a saída de seu fundador e CEO, a implementação de um plano de demissão em massa e mudanças significativas na cultura da empresa. Além disso, o caso também levantou questões sobre a forma como investidores e startups avaliam o valor de mercado das empresas, bem como a ética dos executivos e a responsabilidade dos investidores em relação aos seus aportes. É importante que, a partir desse exemplo, as empresas e investidores aprendam a lição e passem a avaliar com mais cautela as startups em que investem, olhando não apenas para o seu

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